Renato Baptista

            Jô Tauil


 

Escrevo já sem tinta
Em papéis da cor do vento
Toco minha música
Sem nenhum instrumento

 

E leio os teus versos
Trazidos por cotovias
Com partituras de amor
Que guardo no pensamento

 

Pinto os quadros da vida
Sem tela, sem pincéis
Sem inspiração

 

E guardo no coração
Estas telas idílicas
Com respingos de paixão

 

Respiro ar seco, gelado
Que me corta os lábios
Que sangram...

 

Jorra um sangue também
Dos lábios tão ressecados
Que aqui, sussurram teu nome

 

Um sangue já sem cor
Hemorragia de agonia...
Minhas palavras não saem
E eu as engulo

 

Mas como por osmose
Me alcança tua dor sentida
E decifro os enigmas
Das palavras degustadas

 

Sentimentos brotam na pele
Como um suor frio
E meus passos
Traçam meu caminho

 

Teu caminho, a mim te conduz
Mesmo que ainda não saibas
Se és o Cristo...sou cruz

 

Em círculos
No reverso do destino
Calculo mal meu amanhã
E o meu amor navega
Ao sabor das marés
Que me levam mais uma vez
A lugar nenhum
Enquanto escuto
A música da tua ausência.

 

E é ao sabor das marés
Que nossos barcos se encontram
Fundem-se...tornam-se um...
E quando acordares
Verás que a música, na verdade
Anuncia a minha presença
Para sempre...
Em tua vida...


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