Marilene Mees Pretti -- Jô Tauil
 

Já fui Cinderela
Na infância da aquarela.
Fui Princesa e Rainha
Nas fantasias minhas.
E nos sonhos incoerentes
Tentando rasgar correntes
Fui Princesa Isabel.



Nos anos de garota-confusão
Trazia a ressaca nos olhos
Como os de Capitu... dissimulados
Da machadiana criação
De Da Vinci, fui Monalisa
Da paisagem... suave brisa



Nas rodas de passar anel
Fui Terezinha de Jesus
Fui Madalena ao pé da Cruz.
Fui Joana D’Arc
Queimando na fogueira
Fui Maga e Feiticeira
Fui Helena
Em Tróia faceira.



Fui a Jane do Tarzan
Largando o conforto da cidade
Para pendurar-me em cipó
No esplendor da mocidade
(O que não faz o amor?)



Fui a Bela adormecida
Fui Nossa Senhora
Aparecida.



Fui personagem
De novela das oito, fui a tal
Fui Carlota Joaquina, matriz
e Marquesa de Santos, filial



Fui Anita Garibaldi
Guerreira e aventureira.
Fui corajosa Forasteira.
Fui Maria Bonita
Lutando com Lampião



Amei como Julieta
A mesma paixão exaltada
da Shakespeariana
Fui ciclana, fui fulana
Fui a Princesa Diana
Pelo sonho deslumbrada



Fui a Mulher Maravilha
Fui simplesmente Maria
Das Dores
Da Abadia.
Fui Atriz
Fui Meretriz.



Fui porta estandarte
Da Mangueira e da Portela
Fui amante e fui donzela
Mas no palco da vida...

Que desempenho sem arte!



Nas fantasias que fiz
Fui tudo...
E na realidade da vida
Nunca fui o que eu quis.