Segundo Mateus, a última tentação,  a mais importante, em que  satanás definitivamente foi derrotado, deixando Jesus em paz, foi em cima da Montanha.

Ao narrar os fatos históricos da vida de Jesus, cada Evangelista retoca os detalhes para transmitir uma mensagem especial da parte de Deus porque em seu Evangelho, a Montanha tem um significado especial.

Em que consiste a Teologia do Monte ? É curioso notar que Mateus, um escritor que não se interessa muito em situar geograficamente os episódios que conta, todas as vezes que pode, enriquece suas descrições.

Menciona a montanha tantas vezes e em momentos tão diferentes,  que os estudiosos concordam em que não se trata só de uma detalhe geográfico mas que por detrás,  haja um objetivo especial

Mas, qual?

O segredo está no significado que tinha a Montanha entre os antigos. Os lugares altos sempre impressionaram os judeus e se tornaram na Bíblia símbolo de estabilidade, daquilo que não muda, daquilo que é mais firme sobre a terra.

Para falar do amor de Deus, se diz: “as montanhas poderão recolher-se e as colinas sair do seu lugar; mas o meu amor não sairá do teu lado.” (Is. 54,10).

As montanhas são consideradas  as primeiras criaturas de Deus, aquilo que é mais antigo no mundo.

E quando se fala da eternidade de Deus, os Salmos exclamam:

"Antes que os montes fossem criados, desde sempre é Deus" (90,2).

Atenção misteriosa que provocaram as montanhas!

Os Judeus pensavam até que as montanhas eram a morada de Deus e que, de lá do alto, ele falava com os homens.  Por isso um dos títulos mais antigos  significa "o Deus das montanhas".

E daí a crença de que para se encontrar com Deus era necessário subir nas montanhas.

Muitos dos episódios importantes do Antigo Testamento se deram nas montanhas:

Foi no monte  Sinai  onde Deus falou com Moisés e lhe deu os dez  mandamentos.

Foi  no monte  Moriá que Abrão, ia sacrificar o filho Isac e Deus não deixou.

Em outra montanha, o Tabor, Deus fez os judeus ganharem a batalha contra os cananeus.

Foi no monte  Carmelo  onde Elias, o maior dos Profetas, fez chover fogo do céu e derrotou os falsos profetas dos deuses pagãos (I Rs 18,20-48);

No monte Sion foi  construído o único e grandioso Templo de Jerusalém, a morada permanente de Yavé com seu povo.

Também os eventos futuros serão no alto delas. Assim, segundo a tradição, quando vier o Messias, ele julgará todas as nações do alto da montanha (Is 14,4).

Segundo outra tradição, no final dos tempos, Deus oferecerá sobre uma montanha, um grande banquete, com manjares e bom vinho, e alí destruirá a morte (Is 25, 6).

Ora, Mateus, um escritor judeu que escrevia para judeus, participava desta mentalidade.

Por isso, no seu Evangelho, a figura da montanha não é um “lugar geográfico”, mas um “lugar teológico”, isto é, uma imagem com uma mensagem.

Isto explica o seu interesse em mostrar Jesus frequentemente ligado a um monte.

O primeiro sermão que pronunciou com suas famosas bem aventuranças, para Mateus, foi “numa montanha”. Se tinha Deus dado suas leis numa montanha

(o Sinai), também agora Jesus, para dar, em nome de Deus, as novas leis a seus seguidores, tinha que ser de cima de uma montanha.

A transfiguração de Jesus, igualmente aparece numa montanha (Mt 17,1).

Também o último discurso de Jesus,  chamado discurso escatológico, porque nele Jesus faz ao apóstolos  as últimas recomendações, foi pronunciado numa montanha, (Mt 24,3) como a destruição de Jerusalém, o final do mundo e a sua segunda vinda.

Mistérios tremendos que só Deus conhece e domina.

E por isso Jesus os anuncia lá de cima de uma montanha.

Logo depois da Ressurreição, somente Mateus, conta que Jesus apareceu a seus discípulos numa montanha da Galileia (28,16). Foi dali que ele promulgou o solene mandato a seus Apóstolos de pregar o Evangelho a todo mundo.  Este mandato pronunciado numa montanha, adquiria a força e a autoridade do próprio Deus: “se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta MONTANHA para se mover  do seu lugar e ela se moverá”. (17,20).

“Não de pode esconder uma cidade construída em cima de uma montanha” (5,14)

O mesmo encontramos  na parábola da ovelha perdida.  Mateus coloca que o pastor as deixa “nas montanhas”, isto é, não as deixa em qualquer lugar, como se não se importasse com elas, mas num lugar seguro,  marcado pela presença de Deus.

Cena de Jesus, curando em um monte, expressava claramente que não se tratava de uma cura qualquer, (difícil um aleijado subir uma montanha) mas eram curas vindas de Deus  e que traziam consigo a salvação.

Deste modo, com este simples destaque da montanha, vivemos dizendo ao Senhor, em nossas orações, que nós confiamos nele mas tantas vezes não agimos assim nas horas mais difíceis!

Não aprendemos ainda a abandonar nossa vida nas mãos de Deus e deixar que Ele a conduza conforme Sua vontade e remova nossas montanhas.

Creio ser essa uma das mais profundas experiências religiosas que devemos viver.

Subamos os montes  tranquilos, certos de que o nosso Pai, lá em cima nos espera.

Ele nos criou por amor e nos guia no Seu amor.

Precisamos confiar nisso para ver a sua mão na nossa vida e sentir que a Sua face nos acompanha.

 

 

 

 

Midi: Aliaga


 

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