Vivia correndo
pelos caminhos da vida. Hoje não corro mais.
Sigo apenas ao
alcance do sinal verde. Frente ao amarelo,já olho com
cuidado e decido não seguir. Se o sinal está fechado, tenho
paciência, embora saiba que outros passarão e ficarei para
trás. Aguardo a minha vez tranquila, apaixonada, talvez.
Faltou-me espaço na vida, pois quartos e salas não tinham janelas. Segui
lentamente por meus labirintos. Os caminhos tortuosos conheço de cor,
mas sempre me intimidei nas curvas.
Acho que sou um
belo anteprojeto de uma obra inacabada, impossível.
Precisava era
de coragem para quebrar paredes, abrir janelas, subir à
cobertura, acertar o foco e ganhar espaços.
Não arrisquei
novos traços, mesmo quando o trânsito estava livre em mão dupla ou
única.
Já não creio no
sonho, mas não canso de sonhar. Muitas vezes nego o chão,
sem coragem de voar. Continuo desorganizando a ordem
estabelecida, sem buscar novos referenciais.
Reprimo meu
vulcão de dores por temor de que outros mais entrem em
erupção. Vivo assim, liberando lavas aos pouquinhos, para que os
danos não sejam excessivos. Encontro por aí muitas pessoas
iguais a mim, por caminhos transversais |