“Boa noite, Elisa. Estou desesperado e só você pode modificar a minha vida.
Sábado que vem é meu casamento, mas jogo tudo pro alto... se você me disser sim.
Amo você!”
“Não posso, Vítor. Estou namorando. Terminei com ele duas vezes, por sua causa.
Decidi dar-lhe a oportunidade de conquistar meu coração, que está tão machucado.
Ele foi o barco que salvou-me de uma tempestade em alto-mar. Sou reconhecida.
Casarei com ele.Serei feliz. Seja também.”
-Com olhos lacrimosos, a moça viu o vulto amado perder-se na noite. Nunca mais o
viu. Passou a vida pensando nele, embora tenha casado, tido filhos e se
realizado na profissão que abraçou.
Mais de quarenta anos depois, um recadinho no livro de visitas do seu site. Era
ele! O coração acelerou-se. Ele a encontrou no Google. Apressou-se em responder.
Antes do amor, existia a amizade, os momentos de juventude juntos, as músicas
preferidas, as danças de rosto colado, o pedido de namoro, no dia do aniversário
dele como presente... o saudosismo e uma estranha necessidade de trazer o
passado à tona. Mil explicações de uma história mal resolvida que incomodava
ambos.
Passaram a trocar confidências via e-mail. Fotos do passado também. Ela soube de
seus dois casamentos fracassados e ele conheceu mais a fundo aquela mulher, que
tinha tanto amor para dar e, por não encontrar receptividade no parceiro,
fechou-se como ostra, dedicando-se à criação dos filhos e ao trabalho, além da
literatura, que lhe permitia incríveis viagens através do sonho e da fantasia.
Pouco tempo depois desse encontro virtual, já trocavam juras de amor, carícias
virtuais, aconchego invisível, mas presente, real. Chegavam a sentir o cheiro e
o toque, um do outro.
Assim permaneceram por dois anos, o mesmo tempo que namoraram, na década de
sessenta. Na época, quando começaram, Elisa tinha dezoito anos e Vítor, vinte.
No reencontro, sessenta e cinco e sessenta e sete, respectivamente. Limitados
pelas fragilidades do corpo, pelo tempo, pela distância, mas não pelo espelho,
que mostrava dois velhos de olhos brilhantes e corações repletos de amor... um
amor que sempre esteve em standby.
Um dia, Vítor não lhe respondeu, no dia seguinte, também não. Ela ficou aflita e
ligou para ao seu celular. Nada. Depois para a casa; ninguém atendeu.
Por fim, procurou a página principal do amado, no facebook. Três dias de
silêncio, até que seu coração gelou. Lá havia um comunicado do filho do seu
amor: ele morreu dormindo, com um sorriso nos lábios. Devia ter sido durante um
belo sonho com ela. A morte pegou-o pelas mãos e conduziu-o por novos caminhos.
Elisa chorou tudo o que não havia chorado a vida inteira. O primeiro xeque-mate,
ela lhe deu, na juventude. Agora recebe o derradeiro: da vida... ou terá sido da
morte?
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